terça-feira, 21 de maio de 2013

Entulho da Indústria da Construção Civil



1 Caracterização do material

O resíduo de construção e demolição (resíduo de C&D) ou simplesmente entulho, possui características bastante peculiares. Por ser produzido num setor onde há uma gama muito grande de diferentes técnicas e metodologias de produção e cujo controle da qualidade do processo produtivo é recente, características como composição e quantidade produzida dependem diretamente do estágio de desenvolvimento da indústria de construção local (qualidade da mão de obra, técnicas construtivas empregadas, adoção de programas de qualidade, etc.).
Dessa forma, a caracterização média deste resíduo está condicionada a parâmetros específicos da região geradora do resíduo analisado.
1.1 Composição química
O entulho é, talvez, o mais heterogêneo dentre os resíduos industriais. Ele é constituído de restos de praticamente todos os materiais de construção (argamassa, areia, cerâmicas, concretos, madeira, metais, papéis, plásticos, pedras, tijolos, tintas, etc.) e sua composição química está vinculada à composição de cada um de seus constituintes.
No entanto, a maior fração de sua massa é formada por material não mineral (madeira, papel, plásticos, metais e matéria orgânica). Dois exemplos da análise qualitativa da sua fração mineral, para locais distintos, são apresentados a seguir:


Composição média da fração mineral do entulho (%)

MATERIAL

PINTO (1987) 1

ZORDAN e PAULON (1997)2
Argamassa
64,4

37,6
Concreto
4,8

21,2
Material Cerâmico
29,4

23,4
Pedras
1,4

17,8
1 Local: cidade de São Carlos, SP, Brasil.2 Local: cidade de Ribeirão Preto, SP, Brasil.
1.2 Classificação ambiental
Embora o entulho apresente em sua composição vários materiais que, isoladamente, são reconhecidos pela NBR 10.004/ set. 87: Resíduos Sólidos – Classificação, como resíduos inertes (rochas, tijolos, vidros, alguns plásticos, etc.), não está disponível até o momento, análises sobre a solubilidade do resíduo como um todo, de forma a garantir que não haja concentrações superiores às especificadas na norma referida acima, o que o enquadraria como "resíduo classe II – não inerte". Vale ainda lembrar, que a heterogeneidade do entulho e a dependência direta de suas características com a obra que lhe deu origem pode mudá-lo de faixa de classificação, ou seja, uma obra pode fornecer um entulho inerte e outra pode apresentar elementos que o tornem não-inerte ou até mesmo perigoso - como por exemplo, a presença de amianto que, no ar é altamente cancerígeno.
1.3 Apresentação do material
O entulho se apresenta na forma sólida, com características físicas variáveis, que dependem do seu processo gerador, podendo apresentar-se tanto em dimensões e geometrias já conhecidas dos materiais de construção (como a da areia e a da brita), como em formatos e dimensões irregulares: pedaços de madeira, argamassas, concretos, plástico, metais, etc.
2 Produção

2.1 Origem
Praticamente todas as atividades desenvolvidas no setor da construção civil são geradoras de entulho. No processo construtivo, o alto índice de perdas do setor é a principal causa do entulho gerado. Embora nem toda perda se transforme efetivamente em resíduo - uma parte fica na própria obra - os índices médios de perdas (em %) apresentados abaixo fornecem uma noção clara do quanto se desperdiça em materiais de construção - a quantidade de entulho gerado corresponde, em média, a 50% do material desperdiçado.

MATERIAIS

AGOPYAN et al. 1

PINTO 2

SOILBELMAN 2

SKOYLES 2
Areia
76

39

46

12
Cimento
95

33

84

12
Pedra
75
Cal
97
Concreto
9

1

13

6
Aço
10

26

19

4
Blocos e Tijolos
17

27

13

13
Argamassa
18

91

87

12
1 AGOPYAN et al (1998)2 PINTO (1995)
Já nas obras de reformas a falta de uma cultura de reutilização e reciclagem são as principais causas do entulho gerado pelas demolições do processo.
Nas obras de demolição propriamente ditas, a quantidade de resíduo gerado não depende dos processos empregados ou da qualidade do setor, pois se trata do produto do processo, e essa origem, sempre existirá.
2.2 Localização
Grande parte dos produtores de entulho, principalmente o "construtor formiga", continuam jogando esse material ao longo de estradas e avenidas e em margens de rios e córregos. O surgimento dos caçambeiros contribuiu para que esse quadro fosse amenizado com a criação de locais pré-determinados – nem sempre apropriados – para o depósito do resíduo.
Algumas prefeituras (Belo Horizonte, Ribeirão Preto, etc.) estão implantando locais apropriados para receber o resíduo. São as "Usinas de Reciclagem de Entulho", constituídas basicamente por um espaço para deposição do resíduo, uma linha de separação (onde a fração não mineral é separada), um britador, que processa o resíduo na granulometria desejada e um local de armazenamento, onde o entulho já processado aguarda para ser utilizado.
2.3 Estatísticas
Estimativas da quantidade do entulho produzido no país e no exterior são apresentadas abaixo.

LOCAL GERADOR

GERAÇÃO ESTIMADA (t/mês)
São Paulo
372.000
Rio de Janeiro
27.000
Brasília
85.000
Belo Horizonte
102.000

Brasil 1
Porto Alegre
58.000
Salvador
44.000
Recife
18.000
Curitiba
74.000
Fortaleza
50.000
Florianópolis
33.000
Europa 2
16.000 a 25.000
Reino Unido 3
6.000
Japão 3
7.000
1 PINTO (1987)2 PERA (1996)
3 CIB (1998)
3 Tecnologias para reciclagem
Reciclar o entulho - independente do uso que a ele for dado - representa vantagens econômicas, sociais e ambientais, tais como:
  • economia na aquisição de matéria-prima, devido a substituição de materiais convencionais, pelo entulho;
  • diminuição da poluição gerada pelo entulho e de suas conseqüências negativas como enchentes e assoreamento de rios e córregos, e
  • preservação das reservas naturais de matéria-prima.
A seguir são citadas algumas possibilidades de reciclagem para este resíduo e as vantagens específicas de cada uma.
3.1 Utilização em pavimentação.
A forma mais simples de reciclagem do entulho é a sua utilizado em pavimentação (base, sub-base ou revestimento primário) na forma de brita corrida ou ainda em misturas do resíduo com solo.
3.1.1   Vantagens
  • é forma de reciclagem que exige menor utilização de tecnologia o que implica menor custo do processo;
  • permite a utilização de todos os componentes minerais do entulho (tijolos, argamassas, materiais cerâmicos, areia, pedras, etc.), sem a necessidade de separação de nenhum deles;
  • economia de energia no processo de moagem do entulho (em relação à sua utilização em argamassas), uma vez que, usando-o no concreto, parte do material permanece em granulometrias graúdas;
  • possibilidade de utilização de uma maior parcela do entulho produzido, como o proveniente de demolições e de pequenas obras que não suportam o investimento em equipamentos de moagem/ trituração;
  • maior eficiência do resíduo quando adicionado aos solos saprolíticos em relação a mesma adição feita com brita. Enquanto a adição de 20% de entulho reciclado ao solo saprolítico gera um aumento de 100% do CBR, nas adições de brita natural o aumento do CBR só é perceptível com dosagens a partir de 40%;
3.1.2    Limitações
Não disponível.
3.1.3    Processo de produção
O entulho, que pode ser usado sozinho ou misturado ao solo, deve ser processado por equipamentos de britagem/ trituração até alcançar a granulometria desejada, e pode apresentar contaminação prévia por solo – desde que em proporção não superior a 50% em peso. O solo empregado na mistura com o entulho reciclado deve ser classificado de acordo com a Metodologia MCT, especificada pela Norma P01 da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Pesquisas (BODI, 1997) avaliam os resultados de ensaios de dosagens da mistura entulho-solo e as variações da capacidade de suporte, da massa específica aparente máxima seca, da umidade ótima e da expansão.
O resíduo ou a mistura podem então ser utilizados como reforço de subleito, sub-base ou base de pavimentação, considerando-se as seguintes etapas: abertura e preparação da caixa (ou regularização mecânica da rua, para o uso como revestimento primário) corte e/ou escarificação e destorroamento do solo local (para misturas), umidecimento ou secagem da camada, homogeneização e compactação.

3.2.1    Vantagens
  • utilização de todos os componentes minerais do entulho (tijolos, argamassas, materiais cerâmicos, areia, pedras, etc.), sem a necessidade de separação de nenhum deles;
  • economia de energia no processo de moagem do entulho (em relação à sua utilização em argamassas), uma vez que, usando-o no concreto, parte do material permanece em granulometrias graúdas;
  • possibilidade de utilização de uma maior parcela do entulho produzido, como o proveniente de demolições e de pequenas obras que não suportam o investimento em equipamentos de moagem/ trituração;
  • possibilidade de melhorias no desempenho do concreto em relação aos agregados convencionais, quando se utiliza baixo consumo de cimento;
3.2.2   Limitações
A presença de faces polidas em materiais cerâmicos (pisos, azulejos, etc.) interferem negativamente na resistência à compressão do concreto produzido.

3.2.4   Grau de desenvolvimento
Embora pesquisas tenham demonstrado eficácia do processo, vários fatores como os relacionados à durabilidade do concreto produzido ainda precisam ser analisados. As prefeituras de São Paulo e a de Ribeirão Preto já utilizam blocos de concreto feitos com entulho reciclado.

3.3 Utilização como agregado para a confecção de argamassas
Após ser processado por equipamentos denominados "argamasseiras", que moem o entulho, na própria obra, em granulometrias semelhantes as da areia, ele pode ser utilizado como agregado para argamassas de assentamento e revestimento.
3.3.1   Vantagens
  • utilizado do resíduo no local gerador, o que elimina custos com transporte;
  • efeito pozolânico apresentado pelo entulho moído;
  • redução no consumo do cimento e da cal, e
  • ganho na resistência a compressão das argamassas.
3.3.2   Limitações
As argamassas de revestimento obtidas apresentam problemas de fissuração, possivelmente pela excessiva quantidade de finos presente no entulho moído pelas argamasseiras.
3.3.3   Processo de produção
A partir da mistura de cimento, areia e água, a fração mineral do entulho é adicionada a uma caçamba de piso horizontal, onde dois rolos moedores girando em torno de um eixo central vertical, proporciona a moagem e homogeneização da mistura que sai do equipamento pronta para ser usada.
Informações sobre o equipamento de moagem:
ANVI Comércio e Indústria Ltda.
Tel. (011) 289-7109 289-4260.

3.3.4 Grau de desenvolvimento
Esta reciclagem vem sendo utilizada, com freqüência, por algumas construtoras do país e pesquisas estão em andamento para tentar solucionar as limitações desta técnica.


  • Utilização de concreto reciclado como agregado;
  • Cascalhamento de estradas;
  • Preenchimento de vazios em construções;
  • Preenchimento de valas de instalações;
  • Reforço de aterros (taludes).
4 Comentários gerais
O processo de implantação de programas de qualidade pelo qual passa a indústria da construção, certamente contribuirá para a redução do volume de resíduos gerados por esse setor. No entanto, a quantidade de entulho produzida não diminuirá de uma hora para outra.
Além disso, por mais eficaz que sejam as mudanças introduzidas nos processos construtivos, com o objetivo de reduzir os custos e a quantidade de resíduos gerados, sempre haverá um montante inevitavelmente produzido, que somado aos resíduos de demolição, ainda representará um volume expressivo.
Dessa forma, o estudo de soluções práticas que apontem para a reutilização do entulho na própria construção civil, contribui para amenizar o problema urbano dos depósitos clandestinos deste material - proporcionando melhorias do ponto de vista ambiental - e introduz no mercado um novo material com grande potencialidade de uso.

6 Links Relacionados
United States Environmental Protection Agency
http://www.epa.gov/epaoswer/hazwaste/sqg/c&d-rpt.pdf

Global Recycling Network
http://www.grn.com/

Center of Excellence for Sustainable Development
http://www.sustainable.doe.gov/search.htm

Sustainable Building Sourcebook
www.greenbuilder.com/sourcebook/constructionwaste.html

California Integrated Waste Management Board
www.ciwmb.ca.gov/MRT/CNSTDEMO/default.htm

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